Limites do ensino a distância em Odontologia

Mercado Por Conexão Dentista - 28/03/23

A vida acadêmica e profissional se transformou a partir de março de 2020, quando a pandemia da covid-19 forçou uma mudança de paradigmas. Os contatos sociais foram trocados pelo distanciamento físico, pelo isolamento e pelo uso de máscara. O ensino remoto precisou ser adotado emergencialmente, ao estudante, em um primeiro momento, e ao cirurgião-dentista na busca pela atualização de conhecimentos teóricos. No entanto, essa ferramenta tecnológica tem limites dentro do escopo da Odontologia, uma ciência bastante direcionada à prática profissional clínica. E mais: apesar de a educação mediada pelas tecnologias ter começado a crescer uma década atrás, a pandemia exigiu a aceleração desse processo.

“O distanciamento físico necessário, durante a pandemia, resultou na necessidade de se adotar o ensino remoto de forma emergencial, sem que os cursos tivessem tido o seu planejamento pedagógico nessa modalidade.”, explica Ana Estela Haddad, professora associada da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP) e coordenadora do Núcleo de Telessaúde e Teleodontologia FOUSP-Saite. Ela sublinha a necessidade de se diferenciar o período de graduação do cirurgião-dentista, obrigatoriamente presencial, da formação Ensino a distância tem na Odontologia limites Aprendizado remoto pode ser usado na formação continuada do cirurgião-dentista, como cursos de atualização.

No entanto, graduação e especialização exigem modelo presencial. “A formação na graduação em Odontologia demanda do estudante a vivência em atividades práticas e clínicas, que necessariamente precisam se desenvolver presencialmente”, acrescenta a professora. Segundo Ana Estela, apesar de a especialização necessariamente ser presencial, cursos de atualização — principalmente a parte do conhecimento teórico — são mais fáceis de ocorrerem remotamente.

Pesquisas e inovações pedagógicas mediadas por tecnologia têm se desenvolvido e sido testadas, envolvendo modelos híbridos, realidade aumentada, simulações. “Ainda assim, a formação na graduação e a especialização demandam a aquisição de habilidades e competências que, por enquanto, só se pode alcançar de forma presencial”, reforça.

A professora da Faculdade de Odontologia da USP cita um exemplo bem-sucedido de educação a distância para profissionais formados, dentro do próprio Sistema Único de Saúde (SUS). “A Universidade Aberta do SUS reúne mais de 2 milhões de matrículas de profissionais da área da saúde, incluindo a Odontologia. Foi essa rede que permitiu a capacitação rápida e em larga escala dos profissionais na biossegurança, logo depois da eclosão da covid-19”, relata.

Adaptações nas universidades

Como fica, então, a questão da graduação na Odontologia? Faculdades de todo o mundo precisaram se adaptar ao novo contexto.

Na graduação em Odontologia em geral os projetos pedagógicos dos cursos são elaborados para serem presenciais. A partir da pandemia, foi necessário fazer uma transição para o remoto emergencial, sem planejamento prévio.

A Faculdade de Odontologia da USP criou um grupo de apoio didático-pedagógico constituído por professores com experiência em educação mediada por tecnologias digitais. A equipe estabeleceu diretrizes, disponibilizadas em um guia de apoio aos docentes no uso de mídias digitais para o ensino na graduação.

O uso da metodologia ativa e de novas formas de avaliação foram desenvolvidos em caráter de exceção, em uma situação imposta por uma pandemia. Para permitir que a prática odontológica não se perdesse durante o curso, o que comprometeria a formação do profissional, a clínica da Faculdade de Odontologia da USP passou por um processo de readaptação, que envolveu a infraestrutura, passando por protocolos clínicos, equipamento de proteção individual, fluxo de atendimento, sala de espera, prontuário eletrônico e raio-x digital. Algumas mudanças que já estavam planejadas foram aceleradas.

A Associação Brasileira de Ensino Odontológico (Abeno) elaborou um protocolo de biossegurança para as atividades clínicas. O desenvolvimento desse documento consensuado mobilizou mais de 500 docentes de 175 cursos de Odontologia de instituições públicas e privadas de todo o país. Por meio do protocolo, as faculdades se prepararam para operar, durante a pandemia, sem riscos ao paciente e à equipe.

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