A ergonomia na prática odontológica

Amil Dental e você Por Conexão Dentista - 02/08/24

Conheça os riscos para o cirurgião-dentista e saiba como prevenir doenças e lesões mais comuns.

A ergonomia refere-se ao estudo e aplicação de práticas e equipamentos para melhorar e otimizar o bem-estar dos profissionais. Na Odontologia, ela envolve a adaptação de ambientes de trabalho e atividades laborais às necessidades físicas dos cirurgiões-dentistas para proporcionar condições mais seguras, confortáveis e eficientes durante as atividades. 

Um dos principais objetivos da ergonomia odontológica é auxiliar na prevenção de lesões por esforço repetitivo e transtornos musculoesqueléticos — problemas comuns enfrentados por profissionais da área devido à natureza do trabalho, que exige precisão e períodos prolongados em posições fixas. 

Qual a importância da ergonomia para cirurgião-dentista e auxiliar?  

A ergonomia impacta diretamente a saúde e eficiência dos cirurgiões-dentistas e auxiliares, e um dos pontos fundamentais é a prevenção das lesões por conta da postura e dos movimentos executados. Entre elas podemos citar a síndrome do túnel do carpo, a tendinite, além de dores nas costas, pescoço e ombros. 

Um ambiente ergonômico permite que o trabalho seja mais eficaz, principalmente para que haja maior controle e precisão de movimentos, sem incômodos. Outro fator relevante é o conforto no trabalho dos profissionais, evitando a fadiga e promovendo uma sensação de bem-estar. 

Também vale citar que a implementação de práticas ergonômicas pode ser vista como um investimento a longo prazo, já que pode levar a redução de custos operacionais. Prevenindo dores e lesões, diminuem-se os dias de trabalhos perdidos, possíveis despesas médicas e aumenta-se a longevidade da carreira. 

Riscos ergonômicos 

Os principais riscos ergonômicos na Odontologia estão relacionados à postura inadequada durante o desempenho das atividades. Por precisarem ficar na mesma posição por muito tempo, é comum criar tensão em várias partes do corpo como pescoço, ombros, costas e braços. A repetição da ação pode acarretar as lesões. 

Outro cuidado que o profissional deve ter é em relação aos movimentos realizados, já que polir, escavar e outras manobras realizadas continuamente na boca dos pacientes podem causar desgaste nos tendões e nas articulações. 

Além disso, manipular os instrumentos odontológicos exige precisão e força. Se juntar a repetição e a duração dos procedimentos, a fadiga muscular e os transtornos articulares tornam-se riscos ao dentista. 

A visualização inadequada do campo de trabalho também pode conduzir a problemas ergonômicos. Quando há iluminação insuficiente, compromete-se a saúde ocular. Por outro lado, se a distância entre o cirurgião-dentista e o paciente for muito longa, causa transferência de estresse para outras partes do corpo. 

Doenças relacionadas à ergonomia na Odontologia  

  • LER/Dort 

Nos piores quadros, os profissionais podem desenvolver Lesões por Esforços Repetitivos (LER)/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort) que, de acordo com estudo publicado na Revista Brasileira de Odontologia, atingem vasos, tendões, ligamentos, nervos, articulações e fáscias musculares. As consequências são perda de força, dor, fadiga no local e alteração muscular, o que prejudica a produtividade do dentista. 

Há fatores que aumentam o risco de desenvolvimento de LER/Dort, como os movimentos repetitivos, o uso de aparelhos que não possuem qualquer ergonomia, a postura incorreta ao trabalhar, a força excessiva empregada em procedimentos, o estresse pela rotina do consultório e um condicionamento físico que não está preparado para suportar todas essas necessidades. 

Com o tempo, tudo isso acaba por gerar complicações para os cirurgiões-dentistas, sendo as mais comuns: 

  • Tendinites: inflamação ou lesão do tendão. 
  • Tenossinovites: inflamação da bainha do tendão na região em que o músculo se conecta com o osso. 
  • Síndrome do túnel do carpo: dormência e formigamento na mão. 
  • Bursites: inflamação das bolsas que protegem as articulações. 
  • Miosites: inflamação do músculo. 

Ainda conforme o estudo, os dentistas são profissionais que fazem parte de grupos com mais chances de desenvolver essas patologias, já que atuam em uma área exposta a diversos fatores de riscos, que vão desde o ambiente sem ergonomia, até a pressão psicológica que contribui para a ansiedade e o aumento da tensão de músculos. 

Sintomas das doenças posturais 

Estar atento aos primeiros sintomas de LER/Dort é fundamental para um tratamento precoce, assim como evitar o desenvolvimento das doenças. Portanto, o indicado é que cirurgiões-dentistas conheçam os indícios das patologias para que possam procurar ajuda profissional. São eles: 

  • Dores nos membros superiores e nos dedos. 
  • Desconforto físico ao fim do expediente. 
  • Dificuldade para mover dedos e membros superiores. 
  • Inflamações ocorrentes. 
  • Dores localizadas. 
  • Inchaço no local. 
  • Paralisia. 

Uma informação importante é que nem sempre esses sintomas vão significar LER/Dort. Às vezes, eles podem ser indícios de doenças ortopédicas, imunológicas, neurológicas ou distúrbios reumatológicos. Por isso, é essencial não demorar para agir caso sinta algum desses sinais. 

Como aplicar a ergonomia no consultório odontológico?  

A implementação exige atenção a diversos pontos, que vão desde o espaço de trabalho até os instrumentos selecionados para realizar procedimentos. 

Postura ideal para se sentar  

  • Após horas de trabalho, se não houver um policiamento, a posição ergonômica do dentista não será aplicada e, consequentemente, o profissional ficará com dores. 
  • Ao sentar-se na cadeira mocho, suas coxas devem ficar paralelas ao chão, em ângulo de 90º com as pernas. Os pés devem ficar bem apoiados no piso. 
  • As costas e a região renal devem ficar apoiadas no encosto do mocho odontológico ergonômico, enquanto a cabeça fica levemente inclinada para baixo. 
  • A posição do paciente na cadeira mocho deve permitir que a cabeça dele fique no mesmo nível dos seus joelhos. 
  • Quanto à altura da cadeira, ela deve estar ajustada de forma que uma das pernas do dentista possa ser colocada sob o encosto, mas sem pressão. 
  • Os cotovelos devem ser mantidos juntos ao corpo ou apoiados em um local que esteja no mesmo nível. 
  • O cirurgião-dentista deve manter distância de 30 cm da boca do paciente. 
  • Ao realizar trabalhos na maxila, o cabeçote deve ser posicionado para baixo; para a mandíbula, ele deve ser acomodado para cima. 

Cadeira ergonômica 

Uma cadeira ergonômica promove uma postura melhor durante os procedimentos odontológicos, prevenindo a ocorrência de dores cervicais e problemas crônicos. O mocho com essa finalidade oferece suporte adequado para as costas e permite que os pés fiquem apoiados corretamente. 

Descanso para pés 

Um apoio para os pés pode ajudar a manter uma postura equilibrada enquanto o profissional está sentado, distribuindo melhor o peso e reduzindo a pressão sobre a parte inferior das costas. 

Instrumentos  

Instrumentos mais leves e com design que se adapta confortavelmente à mão podem reduzir a tensão no pulso, mãos e ombros. Isso inclui peças de mão de alta e baixa velocidade.

Iluminação  

Se há algo fundamental para que os profissionais da Odontologia façam um bom trabalho é uma boa e correta iluminação. Ela está presente nas normas de ergonomia NR 17 e interfere diretamente na produtividade. 

Caso você esteja se perguntando como a luz poderia estar associada às dores nas costas, é simples: se a iluminação está precária, o cirurgião-dentista precisará se movimentar para encontrar um ponto bom de visão — e ele nem sempre vai ser ergonômico ou confortável. Quando o ambiente tem uma iluminação adequada, você pode manter uma boa postura e trabalhar tranquilamente, sem qualquer incômodo causado por sombras. 

Sendo assim, vamos relembrar algumas regras da NR 17 sobre iluminação: 

  • Todos os locais devem ter iluminação adequada, que pode ser natural ou artificial, desde que apropriada para o trabalho realizado. 
  • A iluminação geral deve ser distribuída de forma difusa e uniforme. 
  • No caso da odontologia, a Anvisa indica que a iluminação seja artificial nos ambientes de atendimento. Ela deve ser projetada de uma maneira que não gere sombras ou ofuscamento. 

Tamanho do consultório  

O tamanho do consultório é fundamental para o seu conforto e do auxiliar. Já imaginou trabalhar em um local apertado, onde vocês sequer conseguem movimentar o mocho e todos os móveis ficam aglomerados? Sem dúvidas, ninguém deseja isso! 

Portanto, o indicado é que o consultório tenha 9 m² (3×3), no mínimo. Locais espaçosos garantem mais mobilidade e conforto para trabalhar. 

Posicionamento do paciente  

O posicionamento correto do paciente na cadeira odontológica é uma forma de facilitar o acesso do dentista à cavidade oral sem causar desconforto ou estresse físico prolongado. 

Posicionamento da cadeira 

Em primeiro lugar, posicione a cadeira de modo que a boca do paciente esteja no nível dos cotovelos do profissional ou ligeiramente abaixo. Essa maneira permite que o dentista mantenha os ombros relaxados e cotovelos próximo ao corpo, minimizando a necessidade de movimentos estendidos ou inclinações, que são prejudiciais à tensão muscular. 

Inclinação da cabeça 

A cabeça do paciente deve estar posicionada de forma acessível e visível ao dentista. Na maioria dos casos, é preferível que esteja inclinada e não completamente alinhada ao resto do corpo. 

Quando o profissional precisar acessar os dentes superiores, o paciente precisa ficar com a cabeça inclinada levemente para trás; para mexer nos inferiores, o queixo deve apontar para o peito. 

Suporte para os pés 

É interessante fornecer suporte aos pés do paciente, estabilizando a posição e reduzindo a movimentação involuntária. Além de proporcionar mais precisão ao dentista, contribui com o conforto de quem está sendo tratado. 

Como prevenir doenças ocupacionais na Odontologia?  

Além de investir em posições, equipamentos adequados, disposição de móveis e outros pontos que impactam diretamente na ergonomia do dentista, é preciso prevenir ao máximo as doenças ocupacionais. Confira na sequência outras práticas para seguir! 

Alongamentos  

É importante que os profissionais adicionem em seu expediente uma rotina de alongamentos para prevenir lesões e outras patologias. Em nosso blog, já criamos um conteúdo específico sobre o assunto, portanto, neste artigo, trazemos um vídeo em que o educador físico Rodrigo Otávio passa algumas dicas rápidas e eficientes no canal do Maurício Castello. 

Exercícios físicos  

Uma vez que a natureza do trabalho do cirurgião-dentista é realizar tarefas em posturas estáticas por longos períodos, exercitar-se regularmente torna-se uma forma de prevenir dores. 

A ideia é fortalecer os músculos utilizados nos procedimentos, em regiões como abdômen, lombar, quadril, ombros e pescoço, dando suporte à coluna e contribuindo para uma postura eficiente. 

Também é preciso aumentar a flexibilidade para aprimorar a mobilidade e a amplitude de movimento. Uma dica é realizar atividades como ioga e Pilates. 

Além disso, movimentar o corpo tem outros benefícios aos profissionais da Odontologia: 

  • Reduz o estresse. 
  • Promove a saúde cardiovascular — essencial para longas cirurgias ou procedimentos. 
  • Melhora a qualidade do sono — impactando na capacidade cognitiva e na regulação emocional. 

Fonte: Blog da Surya Dental

 

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